Para onde a Camila de 10 anos me levaria?

Ela me pegaria pelo braço, me olharia profundamente. Eu ficaria emocionada, observando, lembrando daquele brilho nos olhos, naquela esperança de realizar sonhos, naquela pureza e empolgação, naquela melancolia e tristeza que eles já abrigavam também.

Para onde ela me levaria? Já não é mais uma pergunta simples e rápida de responder. O caminho já foi a tanto deixado para trás que não sei mais qual rota ela gostaria de pegar.

- Para onde você quer ir? –pergunto a ela.

- Não sei, para onde você quiser.

- Não. É a sua vez de responder por si. Você pode, vai. Ouve o seu coração e responde.

Nós fechamos os olhos juntas. Respiramos no mesmo ritmo. O vento levava nossos cabelos. O meu, ruivo. O dela, preto. “Minha índia”.

Vejo a boca dela se movimentar, soltando uma resposta à brisa. Mas eu não consigo ouvir sua voz. Será que um dia voltarei a ouvir?

Ela termina de falar. Seus olhos brilhando mais do que nunca. É insegura, tímida, mas traz determinação. Eu sorri.

- Preciso de um pouco da sua paciência. Mas estamos juntas nessa, ok? Me ajuda? - As palavras vem em lágrimas.

Ela sorriu e balançou a cabeça num sinal de sim.

Ali, encontrei meu porto seguro. E meu cais.

Não é o fim. É o início de uma jornada.

“Gostando ou não, uma borboleta deve primeiro... viver como uma lagarta... antes de voar por aí.”
Fala de Taeko, protagonista do filme “Memórias de ontem”, do Studio Ghibli, de 1991